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Quem somos

A Sociedade Brasileira de Catálise irá, a cada semana, iniciando no dia 23 de junho de 2020, divulgar na sua página da internet um pouco da história de cada um de nossos pesquisadores. Acreditamos aque um pouco desta história e de como a catálise mudou a vida de nossos pesquisadores, será um incentivo para jovens pesquisadores. Resolvemos iniciar com os nossos pesquisadores Sócios Honorários. O primeiro será o Prof. Dr. Martin Schmal, que nos brindou também com um pouco da história da catálise no Brasil.

A Catálise no Brasil

Nos anos 60 a catálise no Brasil era pontual e restrita. Começou na realidade com o Prof. Remulo Ciola em São Paulo. Além de professor de Química na Universidade de São Paulo, trabalhava na primeira indústria de refino do país em Capuava. O Prof. Ciola também inaugurou o curso de catálise heterogênea na USP, sendo pioneiro no país. O seu laboratório montou com o que conseguiu levar da industria, quando o conheci em 1971, recem chegado da Alemanha. As pesquisas em catálise tambem se iniciaram no Centro de Pesquisas da Petrobrás (CENPES), no início dos anos 60, concentradas na área de petroquímica, apoiando principalmente o pólo das indústrias petroquímicas - “Petroquisa”.

PRONAQ – PRONAC

Logo no início dos anos 80, o Ministro do Planejamento Antonio Delfim Neto, criou um Programa Nacional de Química, cujo coordenador era o Prof. Fernando Gallembeck. Era um programa muito amplo visando o desenvolvimento da química no país, com programas separados: “Grandes Equipamentos”; “Processos e Produtos Naturais”; “Xistoquímica”; “Alcoolquímica”, ou seja ao total 12 programas e um deles era de “Catálise”. O Dr. Peter Seidl, coordenador do Projeto de Química no CNPq, procurou-me na época, para coordenar e formar um Grupo de Catálise no Brasil. Após uma série de reuniões em Brasília saiu o primeiro Programa de Química (PRONAQ). O Grupo de Catálise ficou com uma verba relativamente pequena, mas suficiente para comprar pequenos equipamentos, e material de consumo para cada laboratório. O grande desafio era formar os grupos, e fazer um projeto integrado em catálise, procurar novos grupos e coordenar tudo com pouco dinheiro. Procurei na época o Dr. Roger Frety e Dr.Yiu Lau Lam e elaboramos um plano. A idéia era prover estes laboratórios com um teste catalítico e cromatógrafo. Escolhemos os 10 primeiros laboratórios e programamos o plano com os recursos do CNPq, por um período de 24 meses. 

Houve diferentes tipos de problemas estruturais. Nem todos os laboratórios tinham liberdade de gerir o dinheiro e não foram aplicados nos laboratórios de destino causados pelo atraso e a inflação. Houve casos em que o dinheiro dava so para comprar a carcaça do cromatógrafo. Vários projetos foram reprogramados. No entanto, como era esperado, esse projeto andou e vários outros laboratórios se apresentaram no segundo plano. A verba do CNPq foi insuficiente e assim passamos a ter apoio integral da FINEP. A idéia foi a mesma, equipar os laboratórios com uma estrutura mínima de testes catalíticos e agora com equipamentos para caracterizações, como medidas de áreas superficiais, volume de poros e temas ligados a processos catalíticos. 

O Programa Nacional de Química (PRONAQ) foi encerrado logo depois, mas a subárea de catálise continuou e com o apoio da FINEP criamos um plano separado para a catálise, renomeado PRONAC, com C, sob minha coordenação. Mas, depois de 3 anos houve problemas causados pela alta inflação e foi interrompido. Vale ressaltar que este plano foi fundamental e serviu como pilar da catálise nas Universidades no Brasil, criando raízes nas diferentes regiões, principalmente, sul e sudeste e Nordeste. Estava formada a espinha dorsal da pesquisa em catálise no país, que teve reflexo nos diferentes eventos posteriores da SBCat.

Pesquisas nas Indústrias

No Brasil criaram-se 3 pólos petroquímicos importantes, sendo o primeiro e o mais antigo o Pólo Petroquímico de S.Paulo, da década de 60. Toda a tecnologia foi importada e os processos funcionaram, sendo o catalisador um segredo totalmente desconhecido pelos técnicos. Seguiam-se as recomendações dos fabricantes e não se questionava o catalisador, sua procedência ou performance.

Com o apoio da FINEP foram feitos novos investimentos em laboratórios de pesquisas nas empresas na decada de 70, além de Centros de Pesquisas, que deveriam apoiar as pesquisas nas indústrias. Foram feitos grandes investimentos e construídos novos laboratórios de pesquisas em várias indústrias do Pólo de Camaçari, como por exemplo: CIQUINE, COPENE, NITROCARBONO, NITROFÉRTIL, POLIALDEN, etc., preferencialmente para pesquisas em catálise e processos catalíticos, mas também para aparelhar toda a infra-estrutura analítica e plantas pilotos. Em meados de 80 foram montadas duas importantes fábricas de catalisadores no Brasil, ou seja, a Fábrica Carioca de Catalisadores (FCC) e a Newtechnos. A Oxiteno montou uma fábrica de catalisadores para produção de catalisadores em meados de 80, produzindo óxido de zinco e óxido de prata para consumo próprio e para venda.

No início de 1990 interrompeu-se bruscamente todos os projetos de pesquisas nas indústrias do país, com a eleição e posse do novo presidente em1992, Collor de Mello. Foi a fase fatal e mais frustrante do país. Todos os laboratórios nas indústrias fecharam. A PETROQUISA, holding da petroquímica no país foi fechada. Todas as pesquisas industriais e acadêmicas foram interrompidas e sucateadas. Permaneceu a FCC, a Newtechnos e parte da Oxiteno com recursos próprios mas também com grandes prejuízos. Destruiu-se a formação de pessoal qualificado. Fecharam-se todas as firmas de projetos e o país regrediu. Não houve mais apoio para pesquisa científica nas Universidades e conseqüentemente, sofreram todos os cursos de pós-graduação. Durante 10 anos não foram mais contratados jovens para os centros de pesquisas no país.

Sociedade Brasileira de Catálise (SBCat)

O ponto de partida para a criação da SBCat foi a organização do 6º Simpósio Ibero-Americano de Catálise em 1978. No simpósio anterior em Lisboa (1976), eu apresentei um trabalho e com surpresa a Assembléia propôs que eu levasse o próximo Simpósio para o Brasil. Praticamente, ninguém do Brasil até o momento havia participado com trabalho. Era muito temeroso trazê-lo para o Brasil e havia vários votos contrários, principalmente por causa da ditadura reinante no país. Assim, eu pedi um prazo de 6 meses para responder. O Prof. Portella, presidente do Simpósio, insistiu e apoiado por outros colegas procurei a Petrobrás, principal centro de pesquisas no país. O Dr. Leonardo Nogueira, achou temeroso realizar um evento dessa natureza no país. A universidade não tinha condições, tanto financeiras como estruturais, nem conhecimento em catálise e o que fazer?

A idéia foi procurar o Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP), que já tinha experiência em organizar eventos de petróleo e petroquímica. Com o apoio do IBP, da Petrobrás e principalmente do CNPq para trazer alguns conferencistas internacionais (Prof. Boudard) realizamos o 6º Simpósio Iberoamericano de Catalise no Rio de Janeiro em 1978. O resultado foi extremamente positivo, pela presença de cerca de 200 pessoas, vindos da Espanha, Portugal, Argentina, México e também de outros países da Europa, como França e Itália. Logo após o Simpósio, fomos incentivados pelos líderes da comunidade ibero-americana e pelos colegas do simpósio a formar uma coletividade de catálise no Brasil. Como? O IBP aceitou e criou-se o subgrupo de Catálise na Comissão de Petroquímica, tendo como representantes as Universidades de cada região do país e representantes da indústria, Petrobras, Oxiteno, Degussa e Petroquisa, sendo o Dr. Leonardo Nogueira escolhido como coordenador. A comissão planejou as seguintes propostas:

(i) Organizar o seminário a cada dois anos;
(ii) Organizar cursos de catálise heterogênea e homogênea;
(iii) Fazer um livro com glossários catalíticos;
(iv) Fazer um levantamento da catálise nas indústrias;
(v) Organizar futuros simpósios Ibero-americanos de catálise;
(vi) Apoiar grupos nos fomentos à catálise no Brasil;
(vii) Criar regionais de catálise no Brasil.

Em 1996, quando realizamos o 8º Seminário de Catálise no Rio de Janeiro, um dos mais importantes, pela presença de conferencistas famosos, como o Prof. Gabor Somorjai e o Prof. Prins, entre outros internacionais, surgiu a primeira idéia de formar uma Sociedade Brasileira de Catálise. No 9 o Seminário de Catálise em S. Paulo, o número de participantes já era tão grande e o Prof. Dilson Cardoso propôs transformá-lo em Congresso Brasileiro de Catálise da qual fui o primeiro presidente. A criação da Sociedade Brasileira de Catálise deu um impulso sensacional nas relações com as universidades, as industrias e a comunidade internacional.

Um grande desafio foi entrar na nossa Sociedade Internacional de Catálise (IACS) (International Association of Catalysis Societies), que congrega todas as sociedades de países com certo grau de desenvolvimento em catálise. Houve grandes exigências, tais como, publicações constantes em revistas internacionais; interações com as indústrias; realização de congressos internos constantes e participação efetiva nos congressos internacionais. Mais uma vez, aceitamos o desafio e como Presidente da Sociedade e na primeira tentativa, no Congresso Internacional de Catálise em Granada em 2000, apresentamos a nossa proposta, que foi aceita incondicionalmente e com aplausos. Foi o feito mais importante da etapa internacional da Sociedade. Somos afiliados ao IACS desde 2000. A participação dos brasileiros neste Congresso foi muito positiva. Tivemos 26 participantes e um grande número de apresentações. Finalmente, associamo-nos também a Sociedade Ibero-Americana de Catálise (FISOCAT) em 2002.

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