Os eventos que marcaram minha vida profissional são repletos de decisões, oportunidades e sorte. Sorte, especialmente, em encontrar mentores.
A Universidade de Hong Kong, não tem curso de Engenharia Química. Estudei Química e Matemática acreditando poder trabalhar em química aplicada. A Matemática abstrata ensinou-me bem a raciocinar. Em 1972, escolhi a catálise entre os vários cursos de pós-graduação em química aplicada: indústria de papel, geoquímica etc. Assim, tive minha primeira oportunidade e sorte. Fui para Universidade de Stanford sendo orientado pelo Prof. Michel Boudart, pioneiro na área de catálise. Durante doutoramento fiquei como o primeiro estagiário no programa EXXON-Stanford em catálise, orientado pelos doutores John Sinfelt e Robert Garten. Ao conhecer pesquisas e pesquisadores da companhia EXXON, não tive mais duvida de que a catálise é uma área com imensas oportunidades e aplicações.
Depois doutorado, dentre as oportunidades, escolhi a oferta especial do Instituto Militar de Engenharia (IME). A catálise no Brasil estava se iniciando e viver no Rio de Janeiro me-inspirou. A escolha foi bem recompensada. Os excelentes alunos do IME motivam os professores. E logo após chegou o Professor Roger Frety, com larga experiência em pesquisa. Desenvolvemos uma linha de pesquisa de interesse específico brasileiro: o craqueamento de óleo vegetal para obtenção de combustível diesel.
Após oito anos no IME, várias possibilidades sugiram: consultoria na Bahia e posições nas universidades, porém o mais atraente foi como pesquisador no Centro de Pesquisa da Petrobras (CENPES). Em 1985, iniciei pesquisas em catalisadores de craqueamento catalítico (FCC) fazendo um estagio na AKZO-CHIMIE: em um laboratório de um fabricante industrial, mas, que foi uma escola para mim. Parti da área de catálise por metais e entrei para a catálise por zeólitas.
Em 1990, o Dr. Leonardo Nogueira, Chefe do Setor de Desenvolvimento de Catalisadores (SEDEC) e mentor criador do grupo de catálise no CENPES se aposentou. Aceitei o desafio como seu sucessor,quando fui eleito pelos colegas. Reduzi, então, muito a colaboração com a comunidade de catálise: às universidades e à Comissão de Catálise (o precursor da SBCat). Só poderia ter uma prioridade: SEDEC. Aprendi muito: não somente na administração de pesquisa, mas a ser humilde. Aprendi como reconhecer os talentos e a dedicação de tantos colegas. Não devo citar nomes com medo de omissão.
Optei por voltar a ser pesquisador após três anos. Retornei a colaborar com a Comissão de Catálise, sob a liderança dinâmica do Prof. Martin Schmal. O grupo maduro de pesquisa em FCC estava colhendo frutos. Em 2002, realizamos a produção industrial de zeólita ZSM-5 com tecnologia inteiramente brasileira (Após ser compartilhada com Akzo-América, virou uma rota mundial). Novas rotas de preparo e novos aditivos foram desenvolvidos e colocados na prática. Iniciando com a pesquisa básica de um catalisador no laboratório e finalizando com sua aplicação nas refinarias da Petrobras, foi a realização de um sonho.
Por volta de 2006, a Petrobras criou numerosas redes temáticas para gerenciar o grande recurso para projetos de pesquisa junto às instituições nacionais. O gerente representante da área de catálise Oscar Chamberlain no CENPES designou-me o interlocutor técnico da Rede de Desenvolvimento de Catálise. Com a alta confiança da chefia, as grandes motivações das universidades e as experiências acumuladas na indústria, o intercâmbio Indústria-Universidade foi realizado com grande êxito. Criamos grupos de pesquisas em zeólitas, abatimento de emissões e incorporações de biomassa. Junto com os colegas do CENPES e das universidades ganhamos prêmios de invenção praticamente a cada ano, durante mais do que uma década.
Aposentei-me do CENPES em 2016 e mantenho colaboração com grupos de pesquisas industriais e acadêmicas. Agora estou com um novo paradigma: a vida não se trata do que já foi realizado, mas o que ainda está para ser realizado.