Nasci em Resende, no interior do Rio de Janeiro, em uma família simples que, até então, tinha pouco acesso à educação formal. Os primeiros anos não foram fáceis, mas sem dúvida foram alegres e forjaram os valores que me orientam até hoje.
Devido ao grande esforço de minha mãe, D. Marlene Fraga, pude frequentar a escola desde muito cedo. ‘O estudo é o único caminho para um futuro melhor’, dizia ela repetidamente. Trilhando esse caminho, em 1989 me tornei o primeiro de minha família a chegar ao ensino superior. Muito jovem, com apenas 16 anos, deixei minha cidade para fazer Engenharia Química. Lá ia eu para Lorena com minha mochila nas costas e muitos sonhos na cabeça. Aqueles cinco anos foram incríveis!
Nos dois últimos anos de graduação ingressei no programa de estágio das Indústrias Químicas Resende, na época, uma joint-venture entre a Ciba-Geigy e a Sandoz, que mais tarde se fundiram na Novartis. Nesse tempo aprendi muito sobre os processos químicos industriais envolvidos na produção de fármacos. Foi ali vi que muitos processos eram catalíticos, que o papel dos catalisadores era fundamental. Ao término do estágio e com a proximidade da formatura, já sabia que o que me seduzia eram as perguntas. O sonho da infância de ser um cientista era mais forte e eu sabia que precisava seguir em frente.
Cheguei em Campinas em 1994 determinado a estudar Catálise. No departamento da Faculdade de Engenharia Química, no entanto, nem todos os professores podiam oferecer temas de dissertação em todos os períodos. Era preciso aguardar o fim do primeiro período para então saber quais seriam as possibilidades de projeto e orientação. Para minha felicidade, a profa. Elizabete Jordão ofereceu um tema naquele ano, envolvendo o desenvolvimento de catalisadores para produção de álcoois superiores e me empenhei muito para ser o selecionado para o projeto. Iniciava minha caminhada na Catálise no Laboratório de Desenvolvimento de Processos Catalíticos da UNICAMP.
Seguindo para o doutorado em 1996, quis estudar processos com moléculas mais complexas, mais próximas àquelas transformações que tive contato durante o estágio de graduação. Com o apoio da Bete, e agora em parceria com o saudoso prof. Mário Mendes, discutimos os catalisadores e suas formulações. Usar carvão ativado nos parecia um bom caminho, principalmente pela possibilidade de modificações em sua superfície. Por incentivo e articulação do prof. Mendes, fui para um estágio doutoral no Laboratório de Catálise e Materiais da Universidade do Porto em Portugal sob a supervisão do prof. José Luís Figueiredo. Lá tudo o que se fazia dizia respeito a materiais de carbono: carvão ativado, fibras, filamentos e, já então, nanotubos. Naquela ocasião, o grupo se empenhava em entender a superfície de carvões e pude assistir aos passos que levaram à proposição de metodologias onde os grupos oxigenados podiam agora ser descritos de forma assertiva. Que sorte a minha estar ali naquele período! Meus colegas de laboratório eram fantásticos! Um comprometimento e uma generosidade que me servem de exemplo até hoje. Felizmente o tempo permitiu que a amizade seguisse firme e se fortalecesse ao longo de todos esses anos, me dando o prazer de termos ainda parcerias de trabalho.
Com a proximidade do término do doutorado, já de volta ao Brasil, li um e-mail enviado pela lista da RBCat sobre uma oportunidade para recém-doutores no Rio de Janeiro. Enviei minha candidatura e, semanas depois, seguia para o Rio para uma entrevista. Foi nesse dia que entrei pela primeira vez no Instituto Nacional de Tecnologia – INT. E nem conhecer o Rio eu conhecia, acreditem!
Em maio de 2000 iniciei em um projeto de pesquisa no INT sob supervisão da Dra. Lucia Appel. Era o começo de um período mais promissor de investimentos no país com os fundos setoriais. Dois anos depois, fui admitido como pesquisador após concurso público e no INT venho construindo minha carreira. Ao entrar, assumi a chefia do Laboratório de Catálise, permanecendo nessa função até 2008. Esse foi um período de grandes transformações no laboratório. Com um robusto financiamento da FINEP, capitaneado pelos colegas mais seniores do grupo, pudemos fazer uma importante reforma no laboratório e adquirir novos equipamentos, colocando o grupo de Catálise do INT em um patamar de excelência internacional. Em 2008 assumi a chefia da Divisão de Catálise e Processos Químicos, cargo que exerci até 2017. Nesse período, trabalhamos intensamente em projetos apoiados pelos fundos setoriais e pelas Redes Temáticas da Petrobras, fundamentais para a consolidação da Catálise no Brasil na entrada do século 21. Através dessa atuação nas Redes Temáticas, coordenei vários projetos de P&D e de infraestrutura que permitiram realizar uma nova reforma no Laboratório de Catálise, ampliando sua área física e infraestrutura instrumental. Ainda com recursos das Redes, fui responsável pela expansão da atuação do INT em Catálise criando o Laboratório de Catálise Combinatorial em 2009, com foco em experimentação highthroughput. Em 2017 fui convidado pelo então diretor do INT, prof. Fernando Rizzo, a ocupar a Coordenação de Tecnologias Aplicadas do Instituto, compondo sua diretoria até o término de seu mandato recentemente neste 2020.
Enquanto tudo isso acontecia no INT, fui supervisor da Regional 2 da SBCat por dois mandatos consecutivos, ocupando a função entre 2011 e 2015. Em 2013 fui convidado a ingressar como professor permanente do Programa de Pós-graduação da Seção de Engenharia Química do Instituto Militar de Engenharia – IME, onde oriento estudantes de mestrado e doutorado.
Entre 2014 e 2017 fui professor visitante da Faculdade de Ciências Químicas da Universidade de Concepción no Chile. No biênio seguinte, em 2018/2019, fiquei como professor visitante na Unidade de Catálise e Química do Estado Sólido da Universidade de Lille na França. Ainda mantenho produtivas parcerias com aqueles grupos no Chile e na França, além de colaborações com colegas no Georgia Institute of Technology (EUA) e na Universidade de Manchester (Inglaterra).
Há anos tenho focado meu trabalho em processos de conversão de biomassa, com particular interesse para as transformações em fase aquosa (Aqueous Phase Processing) explorando novas estratégias de processo e novas arquiteturas de catalisadores heterogêneos. para obtenção de aditivos e bioprodutos.
Sou bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq desde 2008, e em 2019 fui agraciado com a distinção Cientista do Nosso Estado pela FAPERJ.
Minha caminhada ainda segue e, espero, por muitos anos.
É, D. Marlene, parece que está dando certo! Como sempre, foi bom ter te ouvido.