Depois de ler uma série de relatos de professores e pesquisadores que construíram a SBCat, fico lisonjeado em poder contar um pouco de minha trajetória. E como toda experiência é uma experiência pessoal, vou aqui contar brevemente a minha. A minha biografia começa no interior do Estado de São Paulo, na cidade de Itu, em setembro de 1980. Eu não pensava em ser professor, mas sempre fui fascinado pela ciência, e me lembro deslumbrado em tentar fazer experiências, misturando produtos que estavam disponíveis em casa, sem muito sucesso na empreitada. Sempre estudei em escola pública e felizmente, no ensino médio, fui para uma escola particular, quando tive contato com pesquisa nas aulas de laboratório de física, biologia e química. Conheci as vidrarias, pequenos equipamentos e microscópios. Era o momento em que sentia uma grande satisfação ao compreender algo novo. O caminho para minha carreira começou aí. Em 1997, os professores do colégio nos levaram para conhecer a UNICAMP em Campinas, e ao visitar o departamento de engenharia química, decidi que essa seria a minha profissão. Na época, quem nos apresentou o curso foi o então coordenador Prof. Antonio J. G. Cobo, que eu descobriria alguns anos depois, atuava na catálise. Atribuo a minha escolha, sem hesitação, aos meus professores de química, física e matemática.
Quando iniciei a graduação em 1998 na UFSCar, fui orientado pela Profa. Margarida de Moraes do departamento de Química e, em seguida, pelo Prof. Ernesto Urquieta-González, da Engenharia Química. Com esses dois professores tive o primeiro contato com a catálise. Passei praticamente todo o curso em atividade de iniciação científica e ao terminar pude atuar em um projeto em colaboração com a Oxiteno, coordenado pela Valeria Vicentini e o Prof. Dilson Cardoso, que viria a ser o meu orientador do doutorado. Foi um período muito empolgante, pois vivenciei, mesmo que por raro tempo, a pesquisa na indústria química. No doutorado, estive por pouco mais de um ano na RWTH na Alemanha, no grupo do Prof. Wolfgang F. Hölderich. Fui pelo programa do DAAD, que além de fomentar a mobilidade acadêmica, organiza encontros com seus estudantes. Lembro-me até hoje de assistir a uma palestra de um prêmio Nobel na cidade de Bonn e, na plateia, estudantes de diversos países financiados pelo DAAD. A palestra foi sobre catálise enzimática.
Em 2009 tornei-me professor em Araraquara no Instituto de Química da UNESP (IQ) e lá encontrei um ambiente bastante saudável cientificamente para desenvolver a minha pesquisa, que trata do estudo de sólidos porosos para a conversão catalítica de precursores renováveis. Além da pesquisa, atualmente também dou aulas de cálculo de reatores e operações unitárias. Não encontrei apenas bons laboratórios, mas também estudantes empolgados e que aceitaram em criar comigo o Grupo de Pesquisa em Catálise (www.gpcat.com.br). No IQ, não tínhamos um grupo de catálise heterogênea, e em 2010 aprovamos um projeto que permitiu a constituição de um grupo para pesquisa da forma que gostaríamos.
Com relação à SBCat, em 2010 organizamos o X Encontro Regional de Catálise em Araraquara e de 2013 a 2015 fui coordenador da Regional 3. Em 2009, o Prof. Dilson e eu tivemos o grande prazer de receber o prêmio Tese de Doutorado em Catálise. E, em outras duas edições do prêmio, dois estudantes do GPCat também foram premiados, o Luiz Gustavo Possato (2017) e o Luiz Henrique Vieira (2019), ambos na foto acima.
A catálise sempre foi uma linha de pesquisa ao mesmo tempo empolgante e desafiadora por envolver conceitos transversais. O desenvolvimento tecnológico atual a tornou cara e, infelizmente, coincide com o que é talvez um dos períodos mais desafortunados para a história da ciência mundial por causa dos diversos cortes. Amo ser professor e pesquisador e sinto-me no desafio de motivar os estudantes que estão vindo, em uma retribuição de tudo que meus professores fizeram por mim.