A Catálise no Brasil praticamente iniciou nos anos 80, com a criação do Programa Nacional de Catálise (PRONAC), associando grupos e laboratórios para o desenvolvimento de pesquisas, visando a formação de núcleos para apoiar as indústrias nacionais. Esse plano foi elaborado em 1983 com alguns grupos em Universidades no país, recebendo apoio financeiro do CNPq e FINEP. Foi exatamente neste ano que iniciei o curso de Química Bacharelado, na Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Posso dizer que eu estava no lugar certo, no momento certo.
Minha trajetória na área de catálise iniciou em março/1983, quando fui convidado a participar da equipe do Laboratório de Catálise Heterogênea da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como aluno de Iniciação Científica voluntário, para desenvolvimento de um projeto inserido dentro do PRONAC, sob a coordenação do Prof. Shantappa Jewur. O projeto estava relacionado ao desenvolvimento de óxidos metálicos simples e mistos, além de argilominerais e zeólitas naturais e sintéticas. Ainda em 1983, participei do 2o Seminário Brasileiro de Catálise (São Paulo) e fiquei bastante impressionado com a área de catálise, e tive pela primeira vez contato com renomados pesquisadores nacionais e internacionais. Nesse momento, conheci alguns pesquisadores que iniciaram a catálise no Brasil, como Martin Schmal, Yiu Lau Lam, Ruth Leibson Martins, Ulf Schuchardt e Remolo Ciola. Em 1984, já tinha vários resultados sobre a síntese de zeólitas X e Y, e A, além de modificação de zeólitas naturais stilbita e chabazita. Foi então em 1985, que participei no 3o Seminário Brasileiro de Catálise (Salvador), agora com apresentação do meu primeiro trabalho de IC intitulado: “Síntese, Caracterização e Testes Catalíticos das Zeólitas A, X e Y” (Anais do IBP, 1985, pp. 297-311). Como este evento ocorreu em Salvador, aproveitei para conhecer algumas indústrias do Polo Petroquímico de Camaçari, bem como do Comitê de Fomento Industrial de Camaçari (COFIC).
No período de 1986-88, realizei o mestrado em Química, na Universidade Federal da Paraíba, com Bolsa da COPENE (atual BRASKEM), para desenvolvimento de projeto sobre alquilação de tolueno com metanol e isomerização de m-xileno para obtenção de p-xileno, utilizando zeólita NbZSM-5. Ao final do mestrado fui contratado como químico pesquisador no Centro de Pesquisas e Desenvolvimento (CEPED), em Camaçari (BA), onde permaneci por dois anos. Durante este período, fiz diversos contatos com pesquisadores, destacando os Professores Luiz Pontes (UFBA), Heloysa Andrade (UFBA), Reger Frety (CNRS), Eduardo Falabella (UFRJ) e Yiu Lau Lam (Cenpes). Como funcionário do CEPED, participei de vários projetos de pesquisa do PROQUIM – Programa Petroquímico, financiado pelo COFIC, principalmente projetos da COPENE, sobre caracterização de zeólitas sintéticas; da ACRINOR – Acrilonitrila do Nordeste, sobre catalisadores metálicos baseados em óxidos de molibdênio, bismuto e ferro, para o processo de amoxidação de propeno; CIQUINE – Companhia Química do Nordeste, sobre caracterização de catalisadores de oxidação baseados em óxidos de zinco e titânio, e DETEN – Detergentes do Nordeste, sobre catalisadores ácidos e superácidos, para a obtenção da matéria prima para preparação de detergentes, conhecida como LAB (linear-alquil-benzeno). Este processo usava ácidos líquidos, principalmente o fluorídrico, que é muito volátil e corrosivo, sendo um ácido de difícil manuseio. Como eu tinha conhecimento em catalisadores ácidos heterogêneos, sugeri aos pesquisadores da empresa DETEN que fosse verificada a possibilidade da aplicação de zeólitas ácidas e superácidas para este processo. Uma pesquisa na literatura mostrou que a superacidez de zeólitas poderia ser conseguida pela incorporação de terras raras nas cavidades do material. Assim, resolvi realizar o doutorado com esta temática.
No início dos anos 90, fui aprovado em concurso público para Professor na UFRN, e também já estava iniciando o meu doutorado em Química Inorgânica no Instituto de Química da USP, sob orientação da Profa. Lea Zinner. Defendi minha tese de doutorado ao final de 1992 sobre a “Influência de terras raras nas propriedades e atividade catalítica da zeólita Y”, com participação dos professores Martin Schmal, Dilson Cardoso, Remolo Ciola e Eduardo Falabella, na minha banca examinadora. Os catalisadores obtidos foram caracterizados por vários métodos físico-químicos, e finalmente testados como catalisadores ácidos no processo de alquilação de benzeno com 1-dodeceno, para formação de LAB (Linear-Alquil-Benzeno). Os materiais apresentaram boa atividade catalítica, com seletividade ao LAB 2-fenil-dodecano, que é o produto mais desejado no processo. Este processo foi patenteado e atualmente, o LAB em Camaçari é produzido por processo heterogêneo utilizando zeólitas ácidas. Ao retornar à UFRN, em 1992, iniciei pesquisas sobre síntese, caracterização e propriedades catalíticas de zeólitas, aluminofosfatos (ALPO’s), silicoaluminofosfatos (SAPO’s) e derivados, quando aprovei meus primeiros projetos com o CNPq, além de iniciar cooperação com a Fábrica Carioca de Catalisadores (FCC) e Cenpes/Petrobras. Mantive colaboração efetiva com o pesquisador Yiu Lau Lam (Cenpes) e com o Prof. Dilson Cardoso (UFSCar), o qual recebeu vários alunos para caracterização e testes catalíticos de vários materiais desenvolvidos em nosso laboratório.
Durante minha carreira acadêmica, tive participação em diversos congressos na área de catálise, zeólitas, análise térmica e adsorção, seja como participante, palestrante ou em comissão organizadora/científica. Ressalto que ao longo dos anos, tenho participado de quase todos os Congressos Brasileiros de Catálise, e em 1995, com a criação das sub-diretorias e das Regionais em Catálise, fui indicado como Sub-diretor da SBCAT, juntamente com os colegas: Alexandre Chernichenco, Pedro Arroyo, Luiz Pontes, Claudio Mota, Roberto Fernando de Souza, Vitor Teixeira e Lucia Appel. Assim, como membro e representante de universidades da SBCat, fui eleito o primeiro Supervisor da Regional-1 da SBCat, e em 1996 organizamos o 1o Encontro de Catálise do Norte-Nordeste (ENCAT) em Natal(RN), com mais de 100 participantes, o que nos deixou bastante entusiasmados com a importância da catálise na região. Atualmente os ENCAT’s ocorrem a cada dois anos, em algum estado do Norte, Nordeste ou Centro-Oeste, sendo o evento oficial da RECAT. Nestes eventos, diversos colegas catalíticos integram as comissões, como Sibele Pergher (UFRN), Dulce Melo (UFRN), Eledir Sobrinho (UFRN), Célio Cavalcante (UFC), Maria Wilma Carvalho (UFCG), Meyre Gláucia (UFCG), Celmy Barbosa (UFPE), José Geraldo (UFPE), Joana Barros (UFCG), Luiz Pontes (UFBA), Soraya Brandão (UFBA), Marcelo Souza (UFS), Anne Michelle Souza (UFS), Antonio Osimar Silva (UFAL), Maritza Urbina (UFAL), José Dias (UnB), Silvia Dias (UnB), Geraldo Narciso (UFPA), Geraldo Luz (UESPI), Anne Gabriella (UERN), Vinícius Caldeiras (UERN), dentre outros colegas. O último evento foi o 12o ENCAT, e ocorreu em Belém (PA) sob a presidência do Prof. Geraldo Narciso. Todos os eventos foram carinhosamente preparados, e tiveram como objetivo principal aumentar a interação entre os grupos de catálise na Regional e incrementar as parcerias. Destaco aqui o apoio incondicional da SBCat, CNPq, FINEP, Rede de Catálise (RECAT), indústrias da região e representantes de instrumentos científicos, que sempre garantiram o sucesso dos ENCAT’s.
Foi participando em alguns congressos internacionais, seja na área de catálise, zeólitas, nanomateriais, análise térmica ou adsorção, que conheci pesquisadores renomados, como Harry Robson, Abdel Sayari, Mietek Jaroniec, David Olson, David Serrano, Enrique Castellon, Continuei fazendo contato com esses pesquisadores e no período de 1998-1999, realizei pós-doutorado sobre materiais nanoporosos, especialmente LaMCM-41 e CeMCM-41, em Kent State University (Ohio – EUA), supervisionado pelo Prof. Jaroniec. Naquele período, participei de diversos workshops e simpósios sobre catálise aplicada ao beneficiamento de petróleo e resíduos de petróleo, em eventos apoiados pela American Chemical Society (ACS). Desde então, tenho atuado como integrante da American National Research Concil, para avaliação de projetos financiados pelo Petroleum Research Fund, administrado pela ACS.
Ao retornar dos Estados Unidos, estava sendo criado no Brasil os fundos setoriais e as agências reguladoras, e através da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), com o apoio da FINEP, aprovamos projetos na RECAT nos anos 2000, ocorrendo assim a consolidação de diversas parcerias e grupos de pesquisa em catálise na Regional-1. Tenho atuado nos cursos de graduação em química licenciatura, bacharelado, química do petróleo, e nos programas de pós-graduação em química, pós-graduação em ciência e engenharia de materiais, e pós-graduação em ciência e engenharia de petróleo. Muitos dos meus alunos defenderam suas dissertações ou teses, e ingressaram na academia ou centros de pesquisa. Alguns atuam em instituição no exterior. Em 2000, fomos convidados pela ANP para participar do programa nacional sobre o monitoramento da qualidade dos combustíveis. Então, já estamos inseridos neste programa por vinte anos, e também iniciamos pesquisa sobre catálise aplicada ao beneficiamento de petróleo pesado, resíduos atmosférico, resíduo de vácuo, gasóleo de vácuo. Neste caso desenvolvemos vários materiais meso e macroporosos para estas aplicações. Desenvolvemos também novos projetos sobre pirólise e degradação termo-catalítica de resíduos de plásticos, para obtenção de hidrocarbonetos conbustíveis na faixa de GLP, gasolina e diesel. Temos trabalhos de cooperação na área de biocombustíveis.
O início da minha trajetória catalítica praticamente coincidiu com o início dos seminários/congressos em catálise no Brasil, o que permitiu acompanhar toda a sua evolução e desenvolvimento desde 1983. Naquele tempo, a catálise se concentrava basicamente em RJ e SP. Com a criação das quatro regionais da SBCat, especificamente a Regional-1, houve uma maior divulgação e ampliação das atividades de pesquisa em catálise nas regiões N, NE e CO. Durante minha passagem pelo Polo Petroquímico de Camaçari, fui contemplado com várias frentes de pesquisa, além de amizades que cultivo até hoje. No período acadêmico, desde quando ingressei como professor na UFRN, ao longo de 30 anos (1990-2020), orientei vários alunos de graduação, mestrado e doutorado, os quais muitos deles estão inseridos no mercado de trabalho, o que me deixa bastante honrado, com o sentimento do dever cumprido. Ainda continuo atuando como pesquisador (Bolsista de Produtividade do CNPq, desde 1993), e espero contribuir por muitos anos para o progresso da catálise no Brasil.