Sou natural da Rússia, nasci numa pequena cidade na Sibéria numa família de professores. A minha juventude coincidiu com uma época de rápido progresso da Ciência e Tecnologia na União Soviética. A profissão de cientista era uma das mais prestigiadas e respeitadas na sociedade, o que despertava um grande interesse entre os jovens. Como resultado da participação em olimpíadas escolares de física e matemática, fui selecionada para cursar o 2o grau no colégio interno da Universidade Federal de Novossibirsk com programa com ênfase em ciências exatas. O colégio e a universidade faziam parte da Academia de Ciências da União Soviética.
No último ano do ensino médio me interessei pela Fisico-Química e em 1970 entrei para o curso de Química da Universidade Federal de Novossibirsk, escolhendo a Catálise como a área de minha especialização. Ingressei em 1973 na Cátedra de Catálise, cujos professores eram pesquisadores do Instituto de Catálise da Academia de Ciências. Durante dois anos eu estive desenvolvendo o trabalho de conclusão de curso no grupo de Catálise por Heteropoliácidos deste Instituto sob a orientação do Prof. Klavdii Matveev. O meu interesse por esta fascinante área permanece até dias atuais. Mantenho uma efetiva colaboração com o meu ex-colega do grupo – Prof. Ivan Kozhevnikov (University of Liverpool, UK), o qual se tornou uma referência internacional no campo de heteropoliácidos.
Em 1975, entrei no programa de doutorado do Instituto de Catálise sob a orientação do Prof. Yuri Yermakov e Dr. Vladimir Likholobov. O tema do meu projeto foi o desenvolvimento de processos homogêneos para a oxidação seletiva de olefinas. A catálise por complexos de metais de transição atraía grande atenção naquela época, devido à habilidade excepcional desses elementos em ativar os substratos orgânicos e promover interações entre eles. Pensando nas opções entre os vários grupos do Instituto para meu doutorado, decidi trabalhar nessa promissora área, o que acabou determinando o rumo de toda a minha carreira científica. Desde então, a Catálise Organometálica continua sendo o meu principal interesse e a principal área da minha atuação em Catálise.
Em 1978, fui contratada como pesquisadora pelo Instituto de Catálise em Novossibirsk (atual Boreskov Institute of Catalysis). A maioria dos nossos projetos envolvia processos com uso de derivados de petróleo como matéria prima. Devido a isso, além de realizar a pesquisa básica, mantivemos uma constante colaboração com a Indústria Petroquímica desenvolvendo projetos aplicados. No final dos anos 80, encontrei primeiros brasileiros na minha vida – um grupo de cientistas-catalíticos – Martin Schmal, Maria Isabel Pais da Silva, José Luiz Monteiro e Paulo Leite (CENPES/Petrobras) – visitou nosso Instituto, estando eu envolvida na recepção deste grupo. Naquela época não poderia imaginar que poucos anos depois o Brasil iria se tornar a casa para minha família. Em 1990, tive oportunidades muito raras para um cientista da União Soviética: um estágio na Alemanha (Ludwig-Maximilians-Universität München) no grupo do Prof. Helmut Knözinger e o outro estágio na Inglaterra (Humberside Polytechnic) no grupo do Dr. Alan Allison. Essas experiências internacionais foram muito importantes para ampliar meus horizontes científicos e pessoais.
Em 1992, meu marido Nikolai Goussevskii foi convidado como Pesquisador-Visitante pelo Instituto de Matemática da USP em São Paulo e, em novembro, nossa família chegou no Brasil. Ao procurar o Instituto de Química da USP, fui convidada pelo Prof. José Manuel Riveros a lecionar um curso de Catálise no programa de pós-graduação. Inicialmente permaneci com uma bolsa da Pró-Reitoria de Pesquisa e depois como Pesquisadora-Visitante do CNPq desenvolvendo projetos na área de catálise com Prof. João Valdir Comasseto e Profa. Anna Maria Felicíssimo. Em maio de 1993, na Reunião Anual da SBQ em Caxambu conheci várias estrelas da catálise brasileira, entre elas Ulf Schuchardt, Roberto de Souza e Jairton Dupont. Logo depois, fui convidada pelo Prof. Martin Schmal para promover seminários na UFRJ e no CENPES, onde conheci Eduardo Falabella e Octavio Antunes, entre outras pessoas. Em 1993 ainda, num Workshop em Catálise na USP conheci o Eduardo Nicolau dos Santos. Gostaria de expressar meus sinceros agradecimentos à essas pessoas e à toda comunidade científica do Brasil, que me receberam de braços abertos, proporcionando-me a oportunidade de continuar minha atuação profissional.
Em 1994, nos mudamos para Belo Horizonte, onde meu marido e eu fomos contratados pela UFMG, primeiro como professores visitantes e em 1995 como professores do quadro permanente dos Departamentos de Matemática e de Química, respectivamente. O meu ingresso na UFMG foi incentivado pelo Prof. Eduardo Nicolau dos Santos, na época um recém-contratado professor da UFMG. Desde então, somos parceiros no Grupo de Catálise. No início de nossas atividades tivemos forte apoio do Prof. Carlos Filgueiras e outros colegas do Departamento. Acredito que ao longo dos anos seguintes conseguimos criar um grupo científico produtivo, em ambiente de cooperação, criatividade e apoio mútuo, onde os alunos não somente completam sua formação acadêmica, mas também desenvolvem o interesse e a curiosidade pela ciência e aprendem os fundamentos éticos da pesquisa e da colaboração científica.
O principal interesse do nosso grupo está focado no desenvolvimento de processos catalíticos para a valorização de matéria-prima proveniente da biomassa, renovável e disponível no Brasil, com ênfase especial na oxidação seletiva, hidroformilação, hidrogenação e transformações catalisadas por ácidos. O grupo vem mantendo várias colaborações nacionais e internacionais. Em 1997, fomos convidados para participar da Red CYTED de catálise homogênea (Programa Iberoamericano de Ciência y Tecnología para el Desarrollo), o que possibilitou estabelecer importantes contatos internacionais. Tivemos ou temos colaborações com grupos de pesquisa da Inglaterra, França, Alemanha, Mexico, Rússia, Espanha, Colômbia, Portugal e Venezuela. Em 2009, pelo convite do saudoso Prof. Faruk Nome nós integramos o INCT-Catálise, do qual fazemos parte até os dias atuais, o que impactou significativamente o progresso do grupo.
Tenho o maior orgulho de ser sócia-fundadora da Sociedade Brasileira de Catálise, onde tenho muitos colegas, amigos e colaboradores. Fiz questão de participar pessoalmente em todos os Congressos Brasileiros de Catalise desde sua 8o edição realizada em 1995 em Nova Friburgo/RJ. Durante a minha carreira, tive o privilégio de trabalhar com excelentes colaboradores e excelentes alunos. Gostaria de deixar aqui meus agradecimentos a todos eles pela sua dedicação, entusiasmo e grande contribuição para o desenvolvimento de nossa pesquisa.