Belém do Pará, a “Cidade das Mangueiras”, terra em que o calor da Floresta Amazônica está presente também nas pessoas que nela moram, esse é o lugar em que nasci e escolhi para trabalhar.
Minha trajetória escolar durante o Ensino Básico foi vivida em grande parte nas escolas públicas, e em alguns poucos anos, em escolas da rede privada com bolsa de estudos. Desde meus 6-7 anos, desenvolvi afinidade pela leitura, “devorando” todos os livros da biblioteca na Escola, isso possibilitou que eu sempre tivesse um excelente rendimento escolar nas disciplinas, mas, de forma especial, adquiri um gosto particular por qualquer atividade relacionada aos cálculos, ou seja, passei a gostar de matemática.
Aos 13 anos, quando entrei no Ensino Médio, tive que selecionar qual a área de conhecimento em que iria me preparar para entrar na Universidade e para a vida profissional, não tive dúvidas...Ciências Exatas. Ao tentar ajudar colegas e amigos que vinham estudando no 1º e 2º anos, eu percebi que tinha um certo gosto em transmitir/compartilhar o conhecimento e, então, decidi ser Professor. E a disciplina que eu tive excelente desempenho no 3º ano foi a Química.
Foi assim que, ser professor de Química tornou-se uma meta na minha vida...
Ingressando em 1998 na Graduação de Licenciatura em Química da Universidade Federal do Pará-UFPA, logo nos primeiros anos descobri a importância da Pesquisa Científica, e ali surgiu sonho de, um dia, ser o Luís Adriano professor e pesquisador da UFPA.
Vivendo na Amazônia, a Química de Produtos Naturais sempre teve um papel expressivo e, com isso, não foi difícil me tornar bolsista de Iniciação Científica na área da Fitoquímica, visando o isolamento e identificação de substâncias com propriedades biológicas ativas. Me formei em 2002 e, enquanto aguardava a oportunidade de cursar um Mestrado com bolsa, fui contratado como temporário e prestei concurso público para a Secretaria de Educação do Estado (SEDUC).
Passei um ano, lecionando Química para o Ensino Médio em escolas em diversas cidades do interior do Pará. Ao ser nomeado para assumir o cargo efetivo pela SEDUC, voltei a Belém e aguardei a primeira oportunidade para cursar o Mestrado em Química Orgânica na UFPA, continuando meus estudos na área de Produtos Naturais e, ao mesmo tempo, dando aulas em escolas de Ensino Médio. Fui aprovado em 1º lugar no Mestrado e iniciei efetivamente as atividades acadêmicas de Pesquisa.
Após me tornar Mestre em Química Orgânica, senti que teria mais chances de me tornar professor da Universidade se eu buscasse uma outra área de Pesquisa que não tivesse a mesma visibilidade e massa crítica que a Fitoquímica. Apesar de estar muito familiarizado com o isolamento e identificação de metabólitos secundários, queria ampliar, ainda mais, minha visão de Ciência e atuar em algo que me possibilitasse agregar minha base científica a uma perspectiva de aplicação completamente nova para mim e, foi assim que, vislumbrei a Catálise e a valorização de resíduos presentes na Amazônia como uma possibilidade real de tema para o Doutorado.
Pensando essencialmente nas oportunidades como Doutor em Físico-Química, fui conversar com o Professor Dr. Geraldo Narciso, um dos poucos pesquisadores renomados, que representam a Catálise no Norte do Brasil, e apresentei um pré-projeto envolvendo preparo de catalisadores. Ele me aceitou orientar no Doutorado, e assim começou uma trajetória de parceria científica na área da Catálise.
Em 2007, durante o desenvolvimento da Tese, vivi momentos bastante desafiadores que me fizeram amadurecer cientificamente. Ao entrar no último ano de Doutorado, prestei concurso público para o Instituto Federal do Pará (IFPA) em Castanhal, fui aprovado e empossado rapidamente, tendo novamente que trabalhar e cursar uma pós-graduação.
Com a fase final do Doutorado, percebi que, mesmo com tantas dificuldades, eu tinha feito a melhor escolha para minha carreira, isto porque conseguimos pensar e executar (em plena Amazônia, quase sem recursos financeiros e estruturais, entre outras dificuldades) um trabalho de excelência. Como resultado de meu Doutorado em Físico-Química pela UFPA, em março de 2011, tínhamos publicado artigos científicos em revistas internacionais de excelente reputação, trabalhando com a produção de catalisadores preparados a partir de rejeito (da indústria de mineração) e sua aplicação para a produção de biodiesel (inclusive a partir de rejeito da indústria oleoquímica).
Em setembro desse mesmo ano, prestei concurso público para a vaga de Professor Adjunto em “Biocombustíveis e Biomassas Residuais” e em 1º de dezembro de 2011, consegui realizar meu sonho profissional: Tornei-me Professor da UFPA.
Passei a ministrar disciplinas na Graduação da Faculdade de Biotecnologia, da qual fui Diretor por dois anos, e em duas Pós-graduações (Química e Biotecnologia – nesta sou o atual vice-coordenador), com conteúdos relativos à Catálise, tais como Físico-Química, Físico-Química Avançada e Introdução à Catálise Heterogênea.
Em virtude dessas orientações e de colaborações com outras instituições no Brasil (IFPA, UNIFAP e UFAM) e no Exterior (México, Estados Unidos e Espanha), tenho conseguido uma produção relacionada à Catálise bastante consistente, a qual é constituída de artigos científicos, capítulos de livro internacionais e trabalhos ou resumos em eventos regionais, nacionais e internacionais. Também tenho atuado como revisor de periódicos nacionais e internacionais, editor convidado da revistas científicas, além de ministrar palestras sobre a Catálise e valorização de resíduos em eventos regionais, nacionais e internacionais. Considero importante dizer também que em 2018, fui membro da Comissão Organizadora e Vice-Presidente da Comissão Científica do XII ENCAT.
Além de participar de diversos projetos de pesquisa como colaborador, fui/sou coordenador de projetos com financiamento na área de Catálise, em chamadas relevantes no País, como Universal CNPq, FAPESPA (Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas) e Banco da Amazônia (BASA). Os resultados obtidos nesses projetos foram produtivos, com publicações de alto impacto na área (artigos e trabalhos em eventos científicos) e formação de recursos humanos (graduação, mestres e doutores). Importante ressaltar que, a divulgação científica aconteceu e vem sendo realizada de forma massiva nos mais diversos tipos de mídia regional e nacional, como jornais, sites, rádio e TV.
Desde a inauguração do Parque de Ciência e Tecnologia do Guamá, em julho de 2016, sou vice-coordenador do Laboratório de Óleos da Amazônia (LOA), um espaço que permite preparar, caraterizar, testar e acompanhar o desempenho de diversos tipos de materiais em Catálise e Fotocatálise.
Essa atuação como “catalítico” resultou em 2021, na escolha de meu nome como “Pesquisador em Catálise” pela Sociedade Brasileira de Catálise. Um prêmio que contempla o pesquisador com até 40 anos de idade e que apresentou, nos últimos dois anos, uma das melhores contribuições para o desenvolvimento da catálise no nosso país e divulgação do Brasil no cenário internacional. A minha conquista do prêmio e a apresentação da palestra Keynote no CBCAT foram importantes para dar visibilidade e fortalecer a Pesquisa na área da Catálise na região Norte do Brasil.
Nesse sentido, a fim de implementar tecnologias catalíticas e inovadoras na Amazônia relacionadas com Biorrefinaria e a valorização de resíduos, estabeleceu-se a colaboração com o prof. Dr. Rafael Luque da Universidad de Córdoba-Espanha, um dos pesquisadores expertise e mais citados no mundo na área de Catálise e Química Verde. Uma etapa importante desta parceria foi a aprovação do meu projeto na Chamada CNPQ para Estágio de Pós-Doutorado no Exterior, tendo o Rafa Luque como supervisor.
Durante o Pós-doc na Universidade de Córdoba, Espanha tive acesso a técnicas de síntese e caracterização avançadas; e poder “fazer Ciência” em um ambiente de excelência mundial proporcionou um aprendizado fundamental para formar recursos humanos mais qualificados e implementar novas tecnologias no Brasil . Porém, mais do que reações no âmbito da biorrefinaria e aproveitamento de resíduos lignocelulósicos amazônicos, o principal legado desse período foi, estabelecer parcerias científicas que tendem a se consolidar ainda mais no futuro, com pesquisadores da Espanha, Itália, França, Cuba, Tailândia, Paquistão, Bangladesh, Ucrânia e Indonésia.
Nesse período também, recebi um convite mais que especial da Embaixada da Suécia no Brasil para preparar e gravar um material de divulgação científica, visando explicar ao grande público, quem são e qual a importância dos trabalhos realizados pelos vencedores do Prêmio Nobel de Química de 2021, especialmente no que se refere ao cotidiano das pessoas. Senti-me honrado e, com uma responsabilidade enorme, tive a chance de falar sobre Catálise para o meio acadêmico e fora dele.
Em 2022 fui contemplado para ser Bolsista de Produtividade do CNPQ (PQ-2), com a responsabilidade de continuar desenvolvendo pesquisa de alta relevância na área de Química no Brasil. Tenho conseguido atuar na Catálise de forma sólida, especialmente sob a óptica do tripé Universitário, Ensino, Pesquisa e Extensão. Venho formando Recursos Humanos, contribuindo com formação técnica, visitas, consultoria e análises gratuitas a Associações e Cooperativas de agricultores familiares na forma de atividades extensionistas dentro dos projetos. Lidero um laboratório que desenvolve pesquisas de alto nível dentro da Academia e, vale destacar, gera frequente divulgação científica nas mais diversas mídias, levando informações sobre Catálise para a Sociedade. Por isso, posso afirmar, sem dúvida alguma, que minha principal área de pesquisa é a Catálise e acredito que, mesmo com tantas dificuldades para se “Fazer Pesquisa no Brasil”, vou continuar lutando para manter ou melhorar o nível dos trabalhos em Catálise realizados por mim e por meu grupo de Pesquisa, assegurando nosso papel primordial na difusão da Catálise na Região Norte do País.
Finalizando...Preciso externar minha gratidão ao meu Mestre e amigo Geraldo Narciso que abriu as portas da Catálise para mim, ao meu grupo de Pesquisa e colaboradores que atuam em parceria, propiciando os resultados que temos alcançado; aos alunos que já oriento e orientei , pois eles já são (ou serão) a próxima geração de pesquisadores em Catálise no Brasil; ao Rafa Luque, pela confiança, amizade e cooperação e à SBCAT, pelas oportunidades, reconhecimento e pelo excelente trabalho que desenvolve em prol da Catálise brasileira.
Graças à Catálise, realizei o sonho de ser professor na casa que me formou, a UFPA transformou a minha vida e, no aspecto que considero mais bonito, tem me ajudado a transformar a vida de diversas outras pessoas, por isso preciso dizer:
Viva à Catálise! Viva à Química! Viva à Ciência!