Minha trajetória em direção à Catálise e ao trabalho científico começou com a minha escolha em cursar Engenharia Química na Universidade Estadual de Maringá, em Maringá, interior do Paraná, cidade próxima de onde tinha passado minha infância e crescido (Cianorte/PR). Ainda no primeiro ano de graduação procurei entre os professores do DEQ/UEM, alguém a oferecer algum projeto de iniciação científica do qual eu pudesse participar. E foi a Professora Nanci Pinheiro Povh, que na época desenvolvia pesquisas nas áreas de separação, sistemas particulados, equilíbrio de fases e propriedades termodinâmicas, que me presenteou com uma oportunidade para realizar a extração de corante e óleos essenciais da cúrcuma ou açafrão da Índia(Curcuma longa). Os dois anos de IC, em colaboração com outros alunos, rendeu minha primeira participação em um congresso (no 4º COBEQ-IC)e primeira publicação em periódico internacional (no J. Agricultural and Food Chemistry), ambos celebrados com muita felicidade e orgulho. A pesquisa científica me mostrava novas possibilidades de transformação e a Eng. Química começava a fazer mais sentido do que aquilo que até então eu só via nas aulas e nos livros.
Fiz parte do PET-EQ (Programa de Educação Tutorial) durante quase toda a graduação e essa foi uma experiência muito rica, pois o caráter multidisciplinar do PET incentivou a minha atuação em diversas atividades de ensino, pesquisa e extensão, estimulando proatividade e trabalho em grupo. Meu segundo projeto de IC foi na área de tratamento de efluentes por processos de oxidação avançada, sob a orientação da Professora Célia Regina G. Tavares e da então doutoranda Cláudia T. Benatti. O estudo tinha por objetivo principal caracterizar o efluente gerado no Laboratório de Controle e Preservação Ambiental (LCPA) do DEQ/UEM, após o tratamento pelo processo de oxidação pelo reagente Fenton, e contribuir com a adequada disposição dos resíduos químicos do próprio laboratório. Por fim, antes de concluir a graduação,iniciei um novo trabalho de IC, desta vez na catálise, sob orientação da Professora Onélia Andreo dos Santos, para investigara reação de hidrogenação de aldeído cinâmico a álcool cinâmico, produto de interesse das indústrias de fragrâncias e farmacêutica. Trabalho que abriu as portas da catálise na minha vida.
Ao me graduar em 2006, decidi seguir diretamente para o mestrado e tive a oportunidade de escolher o Programa de Engenharia Química da COPPE/UFRJ como nova casa. Fui convidado para o doutorado direto e optei por desenvolver a tese na área de Cinética e Catálise, sob orientação dos professores Victor Teixeira da Silva (in memoriam) e Martin Schmal, a quem sou muito grato por todos os exemplos, ensinamentos, paciência e dedicação na minha formação profissional. Importante lembrar que a IC em catálise durante a graduação me deixou bastante inclinado a escolher esta mesma área de pesquisa no doutorado, e que viria a fazer parte do meu dia a dia a partir dali (por isso considero o trabalho de IC tão importante!). Desenvolvi a tese na síntese, caracterização e aplicação de óxidos mistos do tipo perovsquitas em reações de oxidação de CO e de hidrocarbonetos e reforma de metano. Ainda no doutorado, passei um período de doutorado sanduíche no Departamento de Química Inorgânica do Instituto Fritz-Haber/Max-Planck em Berlim/Alemanha. Após a defesa do doutorado em 2010, iniciei um pós-doutorado na COPPE com bolsa do Programa Nacional de Pós‐Doutorado (PNPD/CAPES) – diga-se de passagem, um programa super importante para a fixação de doutores no país, seja na indústria ou na academia – e em colaboração com o Instituto Fritz-Habersobre a ativação e acoplamento do metano a partir de trabalhos iniciados por Ruth L. Martins e Silvia F. Moya, sob a supervisão do Prof. M. Schmal.
Dois anos depois me tornei professor adjunto do Programa de Engenharia Química da COPPE/UFRJ e comecei a lecionar e orientar teses e dissertações em conjunto com profissionais que até então eram minhas grandes referências. Fui estimulado pelos colegas do PEQ e do NUCAT (Martin Schmal, Lídia Dieguez, Vera Salim, Neuman Resende, Victor Teixeira, Márcia Dezotti, Tito Lívio, Cristiano Borges, Ângela Uller) a vivenciar um período sabático no exterior, a fim de oxigenar as ideias e ganhar experiência. Entre 2013 e 2014 estive no Laboratory for the Science and Applications of Catalysis na Universidade da Califórnia em Berkeley (EUA), sob a supervisão do Prof. Enrique Iglesia, e conduzi pesquisa focada no estudo mecanístico das reações de hidrogenação de CO sobre catalisadores metálicos envolvendo abordagem cinética e espectroscópica. Foi um período intenso de trabalho e vivência da pesquisa científica sob uma ótica diferente do que eu estava acostumado. Um país que leva a ciência a sério usufrui de um desenvolvimento científico-tecnológico diferenciado. A experiência no exterior só tende a fazer realmente bem, nos torna maduros e mais corajosos para enfrentar desafios. E sempre mantive o interesse em retornar ao Brasil e retribuir aqui a experiência vivida lá fora.
Desde 2014 tenho me dedicado intensamente à catálise, às aulas na graduação e pós-graduação, a projetos científicos e à orientação de dissertações e teses. E é na orientação onde mais aprendo, junto com os alunos, quais são os novos desafios e como podemos deixar nossa contribuição para o progresso da ciência e da vida. Até o momento já foram 21 orientações de mestrado e doutorado concluídas com a colaboração de colegas de vários institutos, com os quais tenho imenso prazer em trabalhar (tanto os alunos quanto os professores coorientadores). Sou Jovem Cientista do Nosso Estado FAPERJ desde 2019, apoio muito importante para ajudar a estabelecer a minha atuação na pesquisa.O dia a dia do Pesquisador é intenso e muito dinâmico, e tem sido necessário muito fôlego para driblar as dificuldades que só a gente conhece. Sigo com particular interesse no estudo das reações da (i) química do C1 e valorização do CH4, CO e CO2, (ii) síntese de Fischer-Tropsch, e (iii) alcoolquímica e valorização de biomassa, buscando complementar aspectos experimentais e teóricos, fundamentais e aplicados em Catálise e Engenharia Química.
Ainda tenho muito a aprender. A trajetória profissional está apenas no início, mas me sinto muito grato e motivado pelos inúmeros exemplos de excelentes profissionais que a Catálise teve e tem no Brasil. Adoro a liberdade que a vida acadêmica e científica proporciona e espero contribuir com a nossa sociedade ao lado dos alunos e pesquisadores que também aceitaram esta mesma jornada.